Eu não quero ser um alarmista, um gerador de pânico, mas está difícil. Uma análise fria, científica, do que está acontecendo já me faz concluir que se não acontecer nos próximos dias uma guinada radical na política do governo, o novo corona vírus vai ser o maior exterminador de empresas da história, em especial de micro e pequenas empresas, a quem dedico este artigo.

E, por consequência, de empregos, que são a renda da maioria dos consumidores. Será um círculo vicioso nefasto.

A POLÍTICA DE ISOLAMENTO NÃO É A MAIS CORRETA PARA A POPULAÇÃO?

Só o tempo dirá. Abordo isso neste artigo: A Tragédia do Novo Corona Vírus – Notas de um Generalista. O que é melhor? Ou menos ruim? O isolamento ou o não isolamento? Tema complexo, escolha de Sofia. Depois confere o artigo e tire a sua conclusão. Nosso foco aqui é outro, sobreviver empresas no cenário atual.

O fato é que já está acontecendo um terrível impacto da política de isolamento sobre as empresas. E é com esse cenário que sócios e gestores empresariais tem que lidar.

QUAL É O ATUAL CENÁRIO?

A grande maioria das empresas está sendo atingida em cheio pela política de isolamento. O setor de serviço, que responde por cerca de 75% do PIB brasileiro, vai colapsar.

A maior parte do que ele oferta ao mercado é dispensável ou adiável. Entretenimento, por exemplo, vai ser terra arrasada. Mas também a maioria da indústria e do comércio vai junto. É uma cadeia. Vai ser desemprego em massa.

O fato é que a crise mal começou e algumas empresas já estão fechando em definitivo. Por diversas razões, boa parte delas não suporta ficar duas semanas, ou menos, sem faturar. Seu fluxo de caixa entra em colapso.

Pense então em oito semanas, que é o tempo que estão falando em manter o isolamento, o mesmo da China. Aí a insolvência chegará em na maioria das pequenas empresas. Ou seja, à medida que a crise avançar, mais e mais empresas vão fechar.

Olhando hoje para o futuro, me parece inevitável. Só muda esse cenário se o governo mudar a estratégia de isolamento. Essa discussão só está tomando força agora.

O governo vai dar algumas ajudas, como prorrogar alguns pagamentos, mas é muito pouco o que ele pode fazer. E o crédito não vai chegar aos pequenos, pois banco não empresta dinheiro para quem está em dificuldade.

ALGUM SETOR NÃO VAI SER ATINGIDO?

Sim. Existem setores que até se beneficiarão da crise, mas muito pontuais, como fabricantes e comerciantes de produtos médicos como álcool gel, máscaras, testes de contaminação, vitamina c, equipamentos de UTI etc.

Outros devem sofrer menos, como parte das empresas de logística, produtores, fabricantes e comércio de gêneros alimentícios, sacolões, farmácias e parte dos profissionais liberais, como médicos e terapeutas.

Mas para 90% das empresas, um dado estimado por mim enquanto não chegam dados confiáveis, um longo e terrível inverno chegou.

QUEM VAI SOBREVIVER DOS SETORES ATINGIDOS?

Muitas empresas, pois algum consumo vai permanecer, mesmo nos setores mais atingidos. E um bom consumo vai acontecer em alguns setores, mas de forma diferente. Comida, por exemplo.

As pessoas não vão comer nos restaurantes durante a crise, mas vão comer em casa. É preciso atendê-las em casa então.

Na minha visão, só vai sobreviver a empresa que:

. Tiver ou criar uma reserva financeira adequada (empréstimo?)
. Implantar uma gestão adequada aos tempos de crise (corte rápido e profundo nos custos fixos e variáveis, implantar um fluxo de caixa minucioso etc.)
. Reinventar seus produtos e/ou forma de comercialização (conseguir faturar um mínimo na crise, como o delivery está permitindo a restaurantes)

FECHAR A EMPRESA PODE SER A MELHOR SOLUÇÃO?

Sim, para muitos caso o ideal é fechar com rapidez. Ou apenas hibernar. Se não for viável se encaixar no modelo acima, é uma alternativa a ser considerada.

Ficar aberto tendo prejuízo é a pior solução. Isso deve ser pensado, estudado com frieza, algo difícil de se ter nessas horas.

O QUE EU FAÇO NA PRÁTICA?

Sem conhecer o seu caso, só posso dizer na teoria, algo genérico:

Planejamento e execução.

Em primeiro lugar, faça um diagnóstico da sua empresa e do mercado. É a parte mais difícil, construir dados e informações seguras. Veja se você consegue cortar gastos e manter um faturamento capaz de garantir a sobrevivência nos próximos dois meses.

Uma gestão radical de cortes de custos e esforços de venda pode manter muitas empresas vivas, aguardando a crise passar. É sobreviver. Foque isso.

Ciente de suas chances, estabeleça uma meta principal, seja de fechar, seja de hibernar, seja de prosseguir. Hibernar é paralisar as atividades, ou reduzir drasticamente, mas manter uma estrutura mínima que possa permitir um rápido retorno ao jogo. Muitos negócios possuem um baixo custo de manutenção se hibernado.

Atenção, crie uma meta realista. Respeite o diagnóstico. E depois crie metas acessórias. Mesmo se a opção for fechar, faça isso de forma bem planejada, em especial em relação aos funcionários. Não deixe pendências que podem se arrastar por muitos e muitos anos nessa área.

Metas definidas, elabore o plano de ação para alcançá-las. Em geral é a etapa mais fácil. Quem vai fazer o que, quando, como, por quanto etc.

Por fim, execute seu plano.  Com um plano de ação bem feito em mãos, suas chances de alcançar as metas é muito maior.

Parece fácil falando. Mas é óbvio que não é.

Força, só os fortes sobreviverão em 2020 se o cenário não mudar. Mas depois tudo vai voltar, diferente, mas vai voltar. Espero que melhor. Que o mundo aprenda a lição.

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Abraço,